Vi essa frase em um comentário de um texto por aí e ela me pegou.
Meus 20 chegaram antes de chegar, aos 19 eu já arredondava, quem se importa? Há algum tempo a volta que a terra dá em torno do sol parou de parecer demorada, 365 dias já não parecem demais, não parecem suficientes.
Já morreu uma boa parte dos neurônios e das lembranças de infância, quem eu era antes dessa data não importa tanto mais.
Angustia é a única sensação que eu sei diferenciar, de resto é só borrão, eu sou borrão.
Me disseram que eu estava feita, que eu era inteligente por natureza e se eu fosse dedicada por opção eu conquistaria grandes feitos, me convenceram da importância da geografia, do passado, do português e da regra de três, me fizeram acreditar que grandes notas seriam importantes para eu chegar em grandes castelos. Que soco no estomago foi quando eu descobri que o castelo que me aguardava era só uma barraca mal armada na areia da praia e que bastava uma onda mais forte pra arrastá-la para longe.
Não é que eu não soubesse para onde ir, eu sabia, mas me disseram que não. Realize seus sonhos, seja quem você quer ser, eles disseram, mas depois delimitaram o que eu que podia sonhar e o que eu podia querer.
A verdade é que são tantas melodias que eu desconhecia antes dos 20, tantas letras que eu não sabia interpretar, tantas vozes, falsamente harmônicas e ironicamente julgadores, que eu desconhecia que os ouvidos clamaram por um pouco de surdez e alma clamou por um pouco mais de mim.
Eu vou ouvir a música e decorar a letra, quem saiba assim eu aprenda como essa banda toca. Hoje eu sou borrão, mas estar perdida é o primeiro passo para se encontrar.