Meu mundo é quadrado, eu vejo ele da janela do quarto, e ainda tem uma rede que me separa do céu. Às vezes vou mais além, vejo um documentário sobre crianças carentes ou o universo observável, em telas de celular e monitores. Quando cansa os olhos, leio um livro, ele é quadrado também.
Vemos quadrado, vivemos quadrado.
A gente sai da festa e vai para um mundo plano que seguramos na nossa mão. Saímos das aulas, das fofocas, perdemos as piadas, saímos dos aviões e das ruas e fomos pro street view.
A gente nunca mais perdeu a receita do bolo e acabou comendo só a calda, porque ele não cresceu, não podemos reclamar que deu tudo errado no banco, ao menos que a internet caia, nem a voz da atendente do delivery a gente ouviu mais. A gente nunca mais ficou perdido em um rua desconhecida, rindo loucamente porque não sabia voltar pra casa, o waze mostrou o caminho.
O que a gente perdeu mesmo foram algumas horas de vida nesse mundo, que devia ser redondo e louco, que devia ser criptografado sim, mas não em código binário, que devia nos deixar sem fôlego por ser grande demais e cansar os pés, não a mão que segura o mouse.
E quando a vida nos atingisse, como um tijolo, com perguntas, dúvidas e incertezas, não seria para as telas quadradas que correríamos.
Copérnico, Giordano Bruno, Galileu, todos eles já sabiam. A resposta está das curvas.